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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Entrevista a um membro dos Panteras Negras

Mais uma vez realizei uma entrevista com um membro da Velha Guarda dos Panteras Negras que nos deu algumas opiniões sobre o movimento ultra e como vive o actual estado do seu clube.


Aqui ficam as suas respostas:

1- Pelo que sei, entraste nos Panteras Negras ainda nos anos 80 e chegaste a presidente da mesma claque. Conta-nos um pouco do teu percurso pelo mundo das claques e da história do teu grupo.

A primeira época que acompanhei os Panteras Negras foi em 89/90, em meados de 97 cheguei à direcção, em 99 a presidente, cargo que ocupei até 2008 e actualmente faço parte da Velha Guarda, a força motriz dos Panteras Negras.

Tenho um grande orgulho em pertencer a um grupo que no próximo dia 7 de Maio completa 26 anos de vida, hoje e sem lugar a exageros, sinto que muita da minha maneira de ser e de estar na vida foi profundamente influenciada por todos estes anos a marcar presença na curva.

São muitos anos de peripécias, de grandes amizades, histórias para mais tarde recordar, de convivência, de viagens e porque não , também de alguns momentos maus ( felizmente muito poucos), em suma conheci e continuo a conhecer muitas pessoas, vivi momentos unicos e impossíveis de explicar … no fundo cresci com os PN sempre a marcarem presença no meu dia a dia.

Passei por muitas fases na minha vida, uma boas , outras nem por isso, ganhei interesse por umas coisas e perdi por outras ao longo dos tempos, mas no meio de tudo isso, algo mostrou-se inabalavel e constante, o meu amor ao BFC e por consequência aos PANTERAS NEGRAS.

2- És adepto de um clube “pequeno” (Boavista) numa cidade onde impera um clube “grande” (Porto). Explica-nos como isso é.

Por um lado é complicado porque para onde quer que te vires estás rodeado de “escaravelhos”, mas por outro é um grande motivo de orgulho defender as cores de um clube que sempre lutou contra o bicho papão da cidade, ao velho estilo de “David e Golias”.

Tenho orgulho de dizer que sou adepto de um clube bairrista, porque somos poucos é certo, mas somos especiais, porque forçosamente para se ser boavisteiro é preciso ter uma enorme personalidade, um grande sentimento de irredutibilidade e não ir simplesmente pelo caminho mais facil, o chamado caminho da carneirada, fenómeno infelizmente tão usual no nosso país…

3- Deves ter vivido grandes momentos com o teu clube na 1ª liga e na Europa, inclusive foste campeão nacional e atingiste as meias-finais da UEFA. Como te sentes em relação a isso e quais as coisas de que sentes mais saudades da 1ª liga e da Europa?

É uma miscelânea de sentimentos… raiva, inconformismo, tristeza…

É para mim um grande drama pessoal quando dou comigo a pensar que ainda há meia dúzia de anos estavamos a lutar de igual para igual com colossos europeus, como é caso do Liverpool, do Bayern, do Inter Milão, etc e agora estamos sujeitos a ser goleados por exemplo por um Aliados do Lordelo, é no mínimo surreal.

Tive a sorte de ver o meu clube a jogar em todos os grandes palcos nacionais e também em muitos internacionais, tenho saudades desses grandes ambientes, das picardias com os ultras dos outros clubes, das rivalidades levadas ao extremo, no fundo daqueles rituais tão caracteristicos do mundo ultra e que tanta adrenalina ofereceu à minha vida… jamais esquecerei esses momentos.

4- Qual a tua opinião sobre o estado actual do movimento ultra?

Em Portugal o movimento está actualmente em crise, mas com a experiência que já tenho, quero acreditar que é só mais um ciclo que forçosamente terá que se fechar para dar lugar a tempos melhores.

5- Na tua opinião, qual é (ou quais são) o grupo português com melhor história e o melhor na actualidade?

Ódios e rivalidades à parte, respeito muito a Juve Leo mais do que não seja pela sua história, se bem que actualmente são uma sombra do que já foram num passado recente.

Actualmente e desculpem-me a falta de modéstia, perante todas as adversidades que temos vivido, considero o meu grupo o melhor da actualidade…quantidade não é nem nunca foi sinónimo de qualidade, é muito facil apoiar um clube quando ele está na mó de cima e convém não esquecer que nós descemos dois anos consecutivos e tivemos até à ultima jornada a lutar para não descer uma terceira vez, durante todo este pesadelo o nosso apoio ao clube jamais esmoreceu, mantivemo-nos unidos e irredutiveis.

6- Qual é o país que mais aprecias em termos de movimento ultra e porquê?

Grécia, sem dúvida que me fascina o fanatismo que aquele povo tem pelo futebol.

7- O que é para ti o futebol moderno e por que está isso a matar o futebol?

A essência do futebol já há muito tempo que não existe, infelizmente a magia do futebol quando este pertencia ao povo é hoje pura miragem, o mundo da bola agora gira à volta de interesses financeiros mesquinhos e escabrosos que atropelam, sem apelo nem agravo, as velhas máximas do desporto rei.

8- Por que situações de repressão policial já passaste?

Dava para escrever um livro. Já tive vários processos em cima e em muitos deles nem sequer estava presente nos acontecimentos, mas felizmente com maior ou menor dificuldade consegui que todos fossem arquivados.

9- Que memórias tens dos jogos com o Vitória? Sentes saudades dos nossos encontros?

Estaria a mentir se dissesse que não tenho saudades. Os jogos com o Vitória eram de facto sempre muito especiais e bem escaldantes, verdade seja dita, apesar de odiar o clube, sempre admirei o seu povo bairrista, se todos os clubes tivessem adeptos assim, certamente que o futebol em Portugal seria bem mais interessante.

Acima de tudo respeito aqueles que se opõem ao reinado dos três estarolas.

10- O que achaste do “Modo de Vida” depois de o leres?

Um blog que serve acima de tudo para homenagear o adepto e defender o movimento, por isso merece todo o meu respeito e apesar de defender outras cores, espero que continue com o bom trabalho até agora evidenciado.

11- Define Ultra.

Não se define, sente-se pura e simplesmente… não é cliché… é realidade…

12- Uma mensagem final para os leitores.

É preciso de uma vez por todas dar a conhecer à restante sociedade, que nós os ultras, não somos vandalos ou marginais como nos “pintam”, mas sim cidadãos que acima de tudo amam o seu clube e gostam do desporto rei mais do que qualquer banal adepto de futebol.

Temos uma honra a defender, um ideal a expressar, os portugueses têm que perceber que o ultra é parte integrante do espectáculo e vital para o mundo do desporto.

Acreditem que é triste ver a situação em que o futebol português se encontra, mas se nós, os que sentem verdadeiramente o “espectáculo da bola” não fizermos nada, quem o fará !?!

Continuem a lutar pelas vossas cores, nunca desistam dos vossos ideais e acima de tudo VIVAM ULTRAS !!

Apesar da rivalidade inesquecível entre Vitória e Boavista, gostei de ler as respostas e de ver que ainda há grupos de pessoas que não abandonam o seu clube quando este está na mó de baixo.

Espero que tenham gostado de ler e que deixem a vossa opinião na zona de comentários.

Um muito obrigado ao entrevistado.

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