Dívidas de dezenas de milhões de euros entre SAD e clube, instabilidade directiva, dificuldades em inscrever a equipa a cada época para disputar a terceira divisão. Ao longo dos últimos seis anos, o Boavista fez uma longa travessia do deserto, que está agora a chegar ao fim.
O clube com melhores desempenhos europeus e mais títulos importantes no futebol português depois dos três 'grandes' - campeão nacional em 2000/01 e vencedor de cinco Taças de Portugal e três Supertaças - já planeia o regresso à 1.ª Liga na próxima época. Perante a deliberação de há um ano do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que considerou ilegal a descida administrativa à 2.ª Liga - em 2008, por coacção de equipas de arbitragem -, a Liga de Clubes confirmou esta semana a reintegração do Boavista em 2014/15 e o alargamento do campeonato de 16 para 18 equipas. A outra vaga será ocupada pelo vencedor de uma eliminatória a dois jogos entre o 15.º classificado da 1.ª Liga e o terceiro do escalão secundário.
Dívida ao Fisco e Segurança Social será paga até 2026
A inscrição dos axadrezados teria sido impossível se em Janeiro a SAD não tivesse visto aprovada a integração no Sistema de Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial, plano do IAPMEI e do Ministério da Economia que permitiu chegar a um acordo de pagamento a 150 meses das dívidas ao Fisco e à Segurança Social. Ou seja, até 2026.
Este débito perfaz a maioria dos cerca de 40 milhões de euros de passivo da SAD. Sem acordo de pagamento não estariam reunidos os requisitos financeiros para inscrição nas ligas profissionais.
Tal como a SAD, que gere apenas a equipa principal de futebol, também o clube reestruturou as suas dívidas em Setembro de 2013. Através de um Programa Especial de Revitalização, os credores aceitaram a redução do passivo para metade, ou seja, para cerca de 32 milhões de euros.
Aos poucos, o Boavista parece reerguer-se e nem o salto de dois escalões competitivos com o regresso à 1.ª Liga parece assustar os responsáveis do clube presidido por João Loureiro, que regressou em Dezembro de 2012 depois de quatro anos de afastamento.
“O nosso ponto fraco, que é ter de construir uma equipa para jogar na Liga principal, pode também ser um ponto a nosso favor. Ao contrário de quase todos os clubes, que já gastaram por antecipação algumas verbas de vínculos plurianuais celebrados, nós vamos assinar contratos pelas transmissões televisivas e de publicidade que nos permitirão um encaixe financeiro”, explica ao SOL um dos responsáveis pela SAD, não escondendo a confiança em obter acordos vantajosos: “Temos estado em conversações e a resposta tem sido muito positiva. Pelo historial, massa adepta e mediatismo que envolve este regresso, acreditamos que, a seguir aos três 'grandes', o Boavista será o clube com mais exposição, um parceiro apetecível para qualquer patrocinador considerando até os valores relativamente baixos”.
Indemnização em estudo
Apesar do considerável passivo e do investimento que terá de ser feito para a reconstrução da equipa, o Boavista terá outro trunfo. Pelas seis épocas em que esteve afastado da 1.ª Liga, a SAD moveu uma acção judicial a requerer à FPF uma indemnização, reclamando mais de cinco milhões de euros por época - 30 milhões no total.
“Só em contratos de TV, o Boavista perdeu 3,75 milhões de euros por época por ter sido rebaixado administrativamente em 2007/08. Além disso, perdeu também mais de um milhão de euros de um contrato com o Montepio Geral, que fazia publicidade nas camisolas”, aponta Manuel Tavares Rijo, ex-presidente-adjunto do clube e actual presidente do Conselho-Geral (órgão consultivo que junta associados ilustres).
Segundo informações recolhidas pelo SOL, o pedido de indemnização em tribunal por parte do Boavista serve sobretudo para assegurar a posição do clube, de modo a “não deixar prescrever prazos e para que não haja perda de direitos por parte da SAD”.
No entanto, sabe o SOL que durante os últimos meses foi criado um grupo de trabalho com representantes da FPF e da SAD axadrezada para discutir um acordo extrajudicial. A ideia dos homens que mandam no futebol em Portugal é evitar que o caso se arraste na justiça - o que prejudicaria ambas as partes -, através do pagamento faseado de uma verba mais baixa do que os 30 milhões pretendidos pelo Boavista, em virtude das seis épocas em que esteve afastado da 1.ª Liga.
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